Sobre pessoas e lugares 2

Esta é a casa verde da rua Voluntários da Pátria. Falei dela aqui em outro texto. Ela hoje não existe mais, foi completamente demolida (eu queria foto do terreno já sem a casa, mas não encontrei).

No ano passado, minha mãe, minhas irmãs e eu fomos lá pela última vez antes da sua destruição. Disso resultou o texto abaixo que, eu não sei porque, nunca tinha postado aqui. Reparo esse erro agora:

Se você passar por essa casa, não verá nada demais nela. Se entrar, verá escombros, sujeira e coisas quebradas. Pra você, ela será apenas mais uma casa velha no centro da cidade.

Mas e se você conhecesse quem morou nela? Se soubesse suas histórias? Você com certeza teria um olhar mais simpático a essa pequena casa. Se você tivesse vivido aqui com certeza ela teria grande significado. Se tivesse boas recordações, o valor afetivo seria grande. Se tivesse más lembranças, não ia querer saber.

Por exemplo, essa é a visão que eu tinha da casa quando chegava ao quartinho dos fundos. Amava ir para a porta e ver todo o telhado da casa, me sentia alta. Nesse dia me dei conta de que a casa que era baixa (além do mais havia um batente na porta do quartinho). Fiquei triste com essa percepção…Na infância tudo é mais legal, né verdade?

Ocorreu-me que da mesma forma que lidamos com os espaços físicos, também lidamos com os outros e conosco.

Se conhecer pode ser como entrar numa casa antiga e cheia de escombros.

Talvez você se assuste no primeiro contato. Talvez esse lugar não te comova, mas basta um pouquinho de atenção e de interesse por tudo que foi vivido ali e você pode encontrar mais do que imaginou e isso poderá ser uma surpresa feliz.

É preciso um olhar apurado e paciência com a gente mesmo para que consigamos ver a beleza em meio aos escombros. E o que de novo pode ser criado depois que o que é velho e quebrado deixou de existir.

Nessa casa morou minha avó e eu tenho várias lembranças boas da minha infância envolvendo ela. Ao entrar lá, revi tudo. Lembram do texto que escrevi? Foi como se tivesse vivendo ele. Agora ela só existe na minha memória (e na da minha família). Isso demolição alguma pode levar embora. E tá tudo bem.

Tem coisas que são ótimas e trazem gostinho de nostalgia, mas em algum momento precisamos deixá-las ir para que coisas novas tenham a chance de serem construídas.

Além disso, se até uma casa precisa de reforma e recomeço, quanto mais a gente. 💚

Texto escrito originalmente em 2 de março de 2020