Encontrei Jesus na universidade

Brenda Vanin
5 min readApr 30, 2021

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Há algumas semanas estava circulando na timeline do Twitter um vídeo do pastor Lucinho falando que os jovens vão para a universidade e se desviam do evangelho.

Essa é uma crença bem comum dentro da igreja, infelizmente. Mas será que ela é 100% verdadeira?

Vou te contar minha história, como uma forma de rebater esse argumento. Eu sei que não sou a dona da verdade e que minha vida não é a regra, mas acompanhe. Talvez minha história te ajude.

Quando estava no final do ensino médio, eu não sabia bem qual curso escolheria. Quis fazer Publicidade & Propaganda, mas nas universidades públicas da minha cidade, esse curso não era oferecido. Quis me mudar, mas minha família não concordou.

E então eu orei. Eu tinha 17 anos, não era convertida a Cristo ainda, só era “filha de crente”, mas eu fiz um das orações mais importantes da minha vida: “Deus se o Senhor não quiser que eu faça publicidade, me mostra outro curso”.

E Deus respondeu me direcionando para a psicologia. Sei que foi Ele porque a psicologia só passou a ser uma opção depois, não era meu sonho de infância ou algo assim. E eu não me interessei porque queria compreender as nuances do ser humano, aquela coisa bem bonita e filosófica. Foi porque eu vi que na publicidade tinha muita coisa de psicologia, em primeiro lugar, e depois porque eu me deparei com uma colega em ideação suicida e eu queria, mas não sabia como ajudá-la. As coisas foram acontecendo bem organicamente.

Eu sei que o título do texto é sobre encontrar Jesus DENTRO da universidade, mas eu quis começar falando disso pra vocês entenderem que a história começou antes. É interessante notar que ele não me direcionou a largar tudo e ser missionária em algum povoado do outro lado do mundo (zero problema nisso, ok?). Ele me direcionou para cursar psicologia numa universidade pública.

Quando a psicologia deixou de ser uma possibilidade e se tornou minha escolha, eu ouvi comentários. Sobre a gente “mexer com a cabeça das pessoas” (é psicólogo ou é piolho???), como se fosse uma profissão que mexe com ocultismo e não uma profissão de saúde embasada na ciência, como as outras e sobre a universidade ser um lugar horrível para o jovem cristão (relembre, eu nem era crente ainda).

Passei no vestibular. Minha turma era formada por pelo menos 5 meninas cristãs e algumas como eu, que tiveram uma educação cristã mas não professavam a fé.

Eu vi sim, na minha turma, meninas tímidas e pacatas (interessante ressaltar, elas não eram cristãs) encontrarem um mar de possibilidades na universidade e mergulharem nele, fazendo com que elas desabrochassem e se tornassem bem diferentes, inclusive ainda mais bonitas.

Eu também sofri os efeitos de estar naquele ambiente. Eu me encantei pelo universo novo que se abriu diante de mim através da psicologia. Eu gostava do ambiente universitário mesmo com todos os problemas. Na universidade eu até me apaixonei (eita™).

Sobre isso, tem algo que eu preciso dizer: uma das coisas que me atraíram nessa pessoa foi o fato dele ser um jovem cristão cursando psicologia. Eu vi alguém que, de certa forma, era parecido comigo. Esse romance não deu certo, mas foi justamente isso que me aproximou ainda mais de Jesus.

Na universidade eu encontrei pessoas que me sustentaram nesse momento de coração partido, mas não só. Pouco antes, ainda no primeiro semestre, quando minha mãe ficou gravemente doente, minha turma esteve ali para mim. Eram pessoas que eu mal conhecia, mas que me deram um suporte enorme. Não recebi isso na igreja onde eu cresci.

Em 2014, eu finalmente tive minha experiência de conversão e fui batizada. E aí meu universo expandiu outra vez. A partir daí, antes de sair de casa eu sempre chamava Jesus para ir comigo pra UEFS. E ele ia. Tudo que eu tô abrindo nesse texto não é nem metade dos momentos em que o senti perto de mim, afinal foram 5 anos e meio.

Se eu já achava incrível tudo que estava aprendendo com a psicologia, imagine como foi pra mim quando eu comecei a perceber que meu curso não negava minha fé. Eu comecei a perceber semelhanças entre o que a psicologia e a bíblia diziam.

Um dia, eu saí da sala de aula e fui chorar no banheiro porque eu fui confrontada por um documentário sobre pessoas que marcam a pele (fiquei pensando nas marcas de Jesus e em como banalizamos isso com o tempo). Uma vez, senti Deus falando comigo através da minha professora psicanalista budista.

Outro exemplo foi quando estudei sobre Jung, ouvi a professora dessa disciplina afirmar com outras palavras o que a bíblia diz sobre em Jesus habitar a plenitude da divindade. Por fim, eu tive outra professora que deu uma bíblia de presente para todos os alunos, dizendo que ali encontraríamos todas as abordagens da psicologia (atitude ousada a dela, reconheço).

Você pode perceber mais correlações nesse texto e nesse aqui . Eu frequentemente dizia que precisava de dois cadernos, um para escrever sobre a matéria e outro para escrever as correlações com o evangelho.

Estudar psicologia me aproximou ainda mais de Deus. Não somente porque, como eu falei, percebi Ele perto de mim em todos os momentos, me guiando e me orientando, mas porque a psicologia me trouxe respostas que a igreja não trouxe e estas não eram contrárias a fé cristã.

Se hoje eu sei lidar bem melhor com as minhas crises sem fingir que elas não existem e tirar proveito disso, se hoje eu respeito meu tempo, foi por causa da psicologia, porque na igreja eu não ouvia a respeito, mesmo essas coisas sendo bíblicas.

Eu aprendi a olhar o outro com mais empatia (chorar com os que choram), a entender o trabalhar do Espírito Santo em mim (semelhante ao trabalho que eu faço com meus pacientes) e a ver o evangelho como a solução integral para todos os problemas da humanidade.

E eu não vi Jesus só nas aulas teóricas, nos estágios também. Principalmente estagiando como psicóloga clínica. Eu sentia que ele estava comigo durante os atendimentos e dessa forma me sentia segura.

Quando eu estava já na reta final, preocupada com o tcc e se eu teria a carga horária exigida para concluir o curso eu ousei achar que Jesus estava distante. Não o sentia mais me ajudando e, no dia limite para contabilizar a carga horária, descobri que eu tinha horas SOBRANDO. Voltei pra casa sentindo como se Jesus estivesse me olhando com amor, mas ainda assim se divertindo por eu ter sido tão boba.

Eu já fui em confraternizações do meu curso onde assim que eu cheguei eu senti vontade de ir embora por causa do clima pesado. Eu já fui furtada na universidade. Mas eu tive conversas que me ensinaram e me curaram. Eu vi ali um lugar de cheio de gente que tá batalhando para ter um futuro. Vi ali possibilidades. Vi pessoas perdidas, sedentas por encontrar o Salvador. E como elas crerão se não tiver quem pregue?

Esse papo de que universidade pública só tem balburdia é mentira e mesmo que fosse verdade, eu não entendo porque o crente tem tanto medo de ir pra lá se Jesus nos chama pra ser luz e, dessa forma, precisamos estar onde há escuridão. Que fé frágil é essa de achar que estaremos melhores em nossa bolha evangélica, se o chamado do cristão é para fora?

Por fim, se você se desviou na universidade ou conhece alguém que já, a responsabilidade não é só desse local. É também da pessoa que não desenvolveu um relacionamento firme com Deus e da igreja que não a preparou corretamente para lidar com as dificuldades do mundo lá fora.

Antes de tirar o cisco do irmão, precisamos tirar a trave do nosso olho. Que Jesus nos ajude nessa tarefa tão árdua.

Amém.

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Brenda Vanin

26 anos, baiana, cristã e psicóloga. Alguém que gosta de escrever sobre a vida.