Especialista 3

Brenda Vanin
2 min readSep 4, 2020

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Quando você chegou eu já estava lá. Foi assim, tanto no primeiro dia quanto agora, te esperei ansiosamente.

Convido-te para entrar na minha sala, de portas fechadas, um lugar secreto longe de interferências externas. Tem que ser assim, senão não funciona. É nesse lugar que trabalhamos. Sim, trabalhamos. O especialista sou eu, mas preciso da sua colaboração, afinal, meu trabalho acontece dentro de você. Eu bato na porta, você precisa me deixar entrar.

Eu começo, te pergunto sobre a semana. Quero ouvir tudo que você quiser me contar. Quero saber o que te aflige, mesmo que até já saiba previamente. Nada se compara a te ouvir me dizer.

Talvez no começo seja estranho pra você. Existem muitas ideias erradas sobre mim e sobre o meu trabalho. Mas aos poucos você aprende a confiar em mim. E a perceber que não é tão difícil assim.

Às vezes você diz que já não tem o que falar, mas continua falando. Sempre tem o que ser dito e algumas coisas são difíceis de dizer. Alguns pontos doem demais. Fico calado para deixar que você se esvazie e talvez isso até te faça pensar que eu não estou ali. Estou sim. E estou prestando atenção em cada palavra sua. Você chora, te ofereço um lenço, um consolo.

Nos dias em que você está mais frágil, te acolho. Mas nem só de escuta vive o meu trabalho. Também preciso falar. Espero alguma deixa, algum silêncio para te fazer perguntas, observações. Quero que você (re)pense. Você vê as coisas por uma perspectiva, muitas vezes limitada.

Eu, que estou de fora, vejo mais longe. Vejo as consequências de um ato impensado. Vejo onde você erra sem perceber. Imediatismo aqui não funciona. Você não vai mudar se eu apenas despejar tudo isso em sua frente. É preciso paciência.

Nossos encontros podem ser muito bons. Podem ser seu único momento de calmaria em meio a tempestade, mas você não fica ali o dia ou a semana toda. Logo você precisa voltar para seu cotidiano, mas a ideia é essa mesmo, os frutos devem aparecer lá, do lado de fora, no meio da confusão do dia a dia.

Talvez você nem se dê conta de início, mas aos poucos, você começa a mudar. Você aprende a mudar o foco do seu olhar e passa a enxergar melhor a situação. Você não fala mais sobre aquela pessoa que te machucou. Você considera se reconciliar com alguém que você ama. Já não pensa mais em desistir de tudo. Você cresceu e ficou mais forte.

Pode ser que você perceba e já se ache tão bem que não precisa mais de mim e pode andar sozinho. Mas aí você se surpreende caindo nos mesmos erros que já achava ter superado. E aí você pensa em não ir mais ao nosso encontro com medo de me decepcionar. O que você não sabe é que eu sei que tudo isso faz parte do processo e espero você para continuarmos trabalhando juntos.

Até a próxima.

Texto escrito originalmente em 15 de junho de 2018 no blog Viver na Plenitude

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Brenda Vanin

26 anos, baiana, cristã e psicóloga. Alguém que gosta de escrever sobre a vida.